O heroísmo está fora de moda?

Olá amigos do RPG Cristão, estes dias enquanto navegava na BEJRPG, vi um artigo que me inspirou a escrever este post, o assunto era a falta de heroísmo nas mesas de RPG. Então comecei a refletir, sobre os motivos desta falta de heroísmo.

Na verdade isso não é um problema novo, me lembro de algum tempo atrás, eu jogava uma crônica de Vampiro a Máscara (sim já joguei WoD, mas não jogo mais) e de repente o restante do grupo achou que devia fazer um "barulho", abriram a porta da van em que estávamos e começaram a metralhar todos que estavam na rua por pura diversão (bem heroico isto). Em outra ocasião eu mestrava uma aventura de GURPS CyberPunk com o mesmo grupo e os jogadores decidiram abandonar a missão e começar a se digladiar entre si. tentei mais uma vez com GURPS Viagem no Tempo e o resultado foi o mesmo os jogadores abandonam a história e resolvem disputar entre si ou juntam-se todos contra um. Desnecessário dizer que desistir de tentar qualquer campanha com este grupo e praticamente não joguei mais com eles.
O problema no caso acima é óbvio, por melhor que fosse o mestre de jogo, os jogadores não entendiam o princípio básico do RPG que é a colaboração, tanto para concluir a missão proposta como para contar uma história, além disso, também lhes faltava a maturidade para encarar uma simples aventura "one shot" o que dirá então uma campanha inteira, principalmente de jogos como Vampiro e outros do WoD ou CyberPunk.
O fato é que embora a falta de maturidade de muitos jogadores seja um problema, existe um agravante. Hoje está sendo apregoada uma inversão de valores enorme. Podemos de certa forma dizer que "O lado negro da Força" está exercendo o seu potencial máximo de sedução, os "heróis" de hoje (se é que se podem chamar de heróis) são bandidos, assassinos, mesquinhos e egoístas, incapazes de se sacrificar por alguma coisa que não vá beneficiá-lo de alguma forma. 

O conceito de herói vai muito além disso, ou de alguém forte que enfrenta qualquer perigo e dá "porrada" em quem parar no seu caminho. 

Significado: herói (latim heros,-ois) s. m.
1. Pessoa de grande coragem ou autora de grandes feitos, valente 2. [Mitologia] Personagem nascida de um ser divino e de outro mortal, semi-deus 3. Pessoa ou personagem de ficção que tem atributos físicos ou morais muito positivos. 4. Pessoa que provoca admiração.
Será que o heroísmo deixou de existir? 
"O termo herói designa o protagonista de uma obra narrativa ou dramática. Variando consoante as épocas, as correntes estético-literárias, os gêneros e subgêneros. O herói é marcado por uma projeção ambígua: por um lado, representa a condição humana, na sua complexidade psicológica, social e ética; por outro, transcende a mesma condição, na medida em que representa facetas e virtudes que o homem comum não consegue mas gostaria de atingir." Wikipédia 
"Podemos, então, transcender o conceito de super-herói, para um herói com qualidade sobre-humanas, como Superman, Homem-aranha, X-men, Capitão América, que exercem habilidades de um nível sobre-humano. E definir um herói como alguém que exerce um caráter nobre a serviço da sociedade, que sacrifica sua vida privada para o bem da comunidade, buscando assim, o bem comum. Esse é o dever moral dos heróis e é através desses atos que ele se torna um." Maycon Batestin
O problema, é que estamos vivendo numa época em que o heroísmo está fora de moda, ser "do bem" não tem graça. Os "heróis" desta geração são criminosos, degenerados e que não tem o menor respeito pelas leis  e o pior, pela vida. É o "Faze o que tu queres será o todo da Lei." de Aleister Crowley gerando seus efeitos.
As pessoas se sentem no direito de fazer o que querem, e os ideais heróicos vão sendo abandonados e substituídos. A luta pelo bem comum ou pelo bem maior, vai sendo trocada pelo "cada um com os seus problemas" ou pior, "farinha pouca, o meu pirão primeiro" e "os fins justificam os meios". Toda essa massa de pensamentos egocêntricos e inconsequentes é ainda confirmado pela impunidade que vemos em nosso dia-a-dia, onde o dinheiro cega as autoridades e o medo garante o silêncio.
Esta mentalidade toda é transferida para as mesas onde os jogadores sentem-se ainda mais protegidos pela impunidade. Basta dar uma olhada em uma mesa qualquer e verá jogadores com personagens sem padrões mínimos de moral. São os Lawful Evil, Chaotic Evil e Neutral Evil. São meros aventureiros, mercenários ou baderneiros que saem atacando o pobre guarda da cidade que apenas cumpria seu dever, deixando uma viúva com três filhos pequenos para criar, mas isso não é problema deles. Eles precisavam entrar na cidade e o guarda pediu que se identificassem, fazendo-os perder tempo.
Os Jogadores esquecem-se do papel do herói (ou não os conhecem). Ao herói cabe o papel de protetor e defensor dos fracos e oprimidos e de toda a humanidade. Para ele o mais importante era combater o mal, e neste contexto, vencia sempre o bem. 
Pretendia ainda expor aqui algumas formas de mostrar aos jogadores que as atitudes dos personagens têm consequências e reconduzi-los ao caminho do heroísmo, mas devido ao tamanho do post, isso vai ficar para uma próxima ocasião. 
Que Deus abençoe a todos.

Comentários

  1. Parabéns Alê o texto ficou muito bom, existe de fato uma desconstrução do herói, uma desconstrução terrível que acaba empobrecendo muito do que se via das aventuras heróicas, eu mesmo já deixei de jogar com um grupo por eles manterem uma conduta que beirava a vilania
    Acho que os fundamentos e a proposta moral é o que devem sempre ser a ponta da lança de seu jogo, por exemplo em D&D 4ed pode-se jogar com seres que foram frutos de um pacto com demônios, entretanto existe um que de redenção nestas criaturas eles procuram por uma luz algo que iluminem a sombra que advém com sua descendência vergonhosa, para mim é esse tipo de postura que anda faltando uma postura moral, de humildade, pureza, redenção e coragem.

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  2. @Bardo Obrigado por seu comentário, agradeço também pelo apoio que o Falando de RPG tem dado ao RPG Cristão.
    Que Deus o abençoe

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  3. kra que oásis no meu do deserto! bro jogo RPG a mto tempo e nunca tinha visto verdades tão bem expressadas e escritas em um blog! Graça e Paz!
    By Tiago Boaventura

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  4. @Tiago Graça e Paz.
    Obrigado por seu comentário e seja bem vindo ao RPG Cristão.
    Que Deus o abençoe.

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  5. É a primeira vez que visito o site e gostei do post. Parabéns! Em minhas campanhas como DM já enfrentei esse problema por duas vezes, invariavelmente não foi legal, numa lancei mão de NPC's para tentar corrigir a "falha" no carater dos personagens mas não deu muito certo e como não estva a vontade terminei a campanha pelo meio. Na segunda vez que aconteceu, novamente fiz uso dos NPCs, fui tentando mostrar que os personagens tinham começado bem mas foram mudando conforme foram adquirindo poder e como não teve jeito acabei mostrando que "sempre existe um peixe maior", os PCs acabaram sendo considerados criminosos e campanha terminou. As experiências não foram de todo ruim pois acabei descobrindo mecanismos para melhorar minha narração, um delas é ajudar os jogadores na feitura de suas fichas e históricos. Peço a eles que botem no papel quais os objetivos de seus personagens e utilizo isso como balisador para medir as ações deles.

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  6. A luta do herói pelo "bem comum" não é em nada diferente daquela do bom político pelo "interesse público", infelizmente não temos tido muitos bons exemplos de "bons políticos" para inspirar nosso heroísmo.

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  7. @Anônimo - Bem vindo ao RPG Cristão, obrigado pelo seu comentário. Entendo como você se sente com relação ao caráter dos personagens durante muito tempo mestrei para um grupo difícil, também tentei vários recursos para corrigir o problema, mas percebi que ou eu me adaptava ao grupo, ou mudava de grupo.
    @Mestre L'Raefah - muito bem dito, infelizmente a corrupção e a impunidade do nosso mundo real está transbordando para nossas mesas de RPG. Cabe a nós incentivarmos nossos personagens e também os jogadores aos atos de heroísmo e honradez na mesa e fora dela.

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  8. Nossos heróis na vida real são jogadores de futebol. Sem querer menosprezar o talento da mocidade, honestamente, isso é muito medíocre. Isso reflete na ficção. Construir volões é mais simples do que construir heróis, porque as pessoas já absorveram que o mal é mais interessante. Compete a nós, escritores, artistas, rpgmakers, construir heróis interessantes. Mas isto pode significar sacrificar o óbvio, o didático, e o politicamente correto. Significa criar um herói que corra riscos, que possa morrer de verdade. Que tenha dilemas que o leitor/jogador consiga se ver nelee através dele. Será que conseguiremos?Abç

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